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sexta-feira, 16 de julho de 2010

DESABAFO

Diante da tela do computador

Diante da tela do computador...paro...olho...reflito, mas nada consigo extrair de minha mente que não sejam linhas vazias de um significado teórico-reflexivo válido para minha formação. Consigo escrever linhas de angústias. Angústias diante da sensação contraditória “Amo escrever, mas não o consigo.” Algemas invisíveis do rigor gramatical me prendem a linhas sem nada, sem expressão, apenas um mero ponto-e-vírgula no lugar correto... não há ponto final, pois sempre...por mais que tudo se encaixe...fique aquela sensação de inacabado. Queria que fosse mais fácil, mais espontâneo... simplesmente olhar e escrever...São tantas idéias em minha cabeça, tantas reflexões que surgem numa conversa entre amigos, mas ao me proporem escrever sobre o que penso...vai embora. No lugar da idéia surge o medo, no lugar da certeza do meu ponto de vista, surge a dúvida se aquele ponto de vista é meu mesmo ou tirei de outro lugar, no lugar do prazer, surge a obrigação de colocar um ponto-e-vírgula no lugar correto. Como fazer? Pergunto-me todos os dias... sempre quis que existisse uma máquina que pudesse copiar automaticamente tudo que a gente pensasse, colocando de uma forma bem bonitinha e organizada...por que aí não teríamos esse preocupação com o ponto-e-vírgula e poderíamos finalmente colocar o ponto final. Incrível, linhas e linhas para uma coisa simples dizer... “amo escrever, mas tenho medo de fazê-lo” Mas por que esse medo? Minhas insegurança diante das conversas com meus supostos leitores me fazem parar...encolher...desistir. Mário Osório Marques me disse uma vez que por mais que a gente queira sempre haverá alguém olhando nossa obra, um alguém invisível, levantando questões horas pertinentes, horas tão impertinentes que você fica com raiva. As vezes acho que somos egoístas demais ao escrever, e esquecemo-nos desses leitores, escrevemos somente para um leitor... nós mesmos. O autor escreve um livro para si mesmo... engraçado não é? Eu vejo de seguinte maneira minha situação atual diante deste temor para a prática do escrever... o problema, creio eu, não consiste no ato de escrever em si, mas no rigor que esse ato possui nos diferentes ambientes acadêmicos que percorro... pois não basta só refletir, mas fazer dessa reflexão algo esteticamente mais evoluído (não era bem essa a palavra), pois pode ter certeza que escrever bonito é fundamental (se não é me digam, pois me fazem pensar assim) para refletir com respeito no meio acadêmico... nossos avôs refletem mais do ninguém sobre a vida, mas acho que mesmo assim eles não se encaixariam no padrões que aqui existem. Já me falaram que devemos ser simples ao escrever, como poderemos ser simples diante de tantas coisas complexas que são abordadas e as exigências que devem ser cumpridas? Me falaram também que para o trabalho ser bom, deve ser um lazer...procurar o lazer diante da incerteza de sua capacidade de escrita é uma tarefa árdua. Tornar a escrita significativa para não só atender determinadas exigências externas, mas suas exigências internas também, suas preocupações, suas verdades é bem mais difícil do que imaginei. Receio... tenho receio de escrever, receio de escrever e ser simples demais, ser vazio demais, ser complexo demais, ser infantil demais, ser tudo demais e nunca na medida certa. Reconheço que um texto nunca estará pronto completamente, mas acho pelo menos perto disso ele deveria estar... os meus nunca ficam assim. Admitindo toda esse mistura de sensações diante do ato de escrever, espero me desprender um pouco mais dessas algemas invisíveis que tanto me incomodam... e simplesmente escrever... palavra por palavra, linha por linha, parágrafo por parágrafo... o leitor comigo, caminhando junto sem nos preocuparmos com as normas apenas falar e nos compreendermos, gerar um diálogo franco e sincero pautado em reflexões não apenas pomposas e com palavras que ninguém fala, mas reflexões que surgem das vivências, em uma conversa, uma leitura, uma aula...sem compromisso.. apenas dialogar e escrever.

UFA! Agora daqui um tempo quando for olhar esse texto de novo, espero rir e colocar o ponto-e-vírgula no lugar certo.

Bebel Sousa

2 comentários:

  1. Ah! que texto lindo e cada ponto no seu devido lugar, nem teve espaço pro medo. Parabéns!
    BjoBjo;)

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  2. Bebel, quem está todos os dias com você sabe que é só você abrir a boca que saem várias palavras incrivelmente conectadas em questão de segundos. Nunca tinha lido um texto seu que não fosse coisas de gestão educacional. Muito bom o texto!

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